segunda-feira, 20 de maio de 2019

A Rodovia BR-163

Histórico

Em 1970, o Governo Federal, com o lema "Integrar para não entregar" decide implantar o Plano de Integração Nacional (PIN), com a finalidade  de integrar a Amazônia ao resto do país.  O plano visava a ampliação da rede rodoviária e a implantação de novos núcleos de colonização na amazônia. Preconizava a implantação de 8 grandes eixos rodoviários: 

Estreito-Altamira-Humaitá (BR-230) a Transamazônica
Cuiabá-Santarém (BR-165)
Belém-Brasília (BR-153)
Belém-São Luís (BR-316)
Cuiabá-Porto Velho-Rio Branco-Fronteira com o Peru (BR-364)
Manaus-Porto Velho (BR-319)
Manaus- Boa vista-Fronteira com a Venezuela (BR-174)
Macapá-Fronteira da Guiana (BR-156)

No mesmo ano é apresentado o Plano de Ocupação da Amazônia Legal, e são iniciadas as obras de construção das rodovias Transamazônica (BR-230) e Cuiabá-Santarém (BR-165). 

Em 1971, o trecho entre a Serra do Cachimbo e a rodovia Transamazônica era totalmente desabitado, contando apenas com algumas casas nos últimos 200 Km. Em maio de 1971, é realizada a primeira viagem da equipe de técnicos do Ministério da Agricultura para o levantamento dos solos lindeiros, identificando as áreas com potencial agrícola, com vistas à colonização das margens da estrada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

Em julho de 1971, o Ministério dos Transportes apresenta o Plano de prolongamento da Rodovia Cuiabá – Santarém até o Suriname, ligando Óbidos, na margem esquerda do Amazonas,  até a cidade de  Alenquer na fronteira com o Suriname.

Os primeiros trechos da Rodovia Cuiabá-Santarém são entregues em 1972, quando são fundadas as cidades de Vera e Sinop , núcleos de colonização pioneiros no norte do Estado de Mato Grosso, região também praticamente desabitada.

Em 1972, no dia 10 de março, os pelotões de topografia do 8º Batalhão de Engenharia do Exército se encontram, finalizando o levantamento topográfico do trecho Santarém - Cachimbo. O 8º Batalhão, com sede em Santarém, era o responsável pela implantação do trecho de 860 Km entre Santarém e Cachimbo, na divisa com o Estado de Mato Grosso. O 9º Batalhão, com sede em Cuiabá, era o responsável pela implantação do trecho Cuiabá - Cachimbo, com 792 Km de extensão. Em abril de 1972, partindo de Santarém, já haviam 90 Km de estrada aberta, em fase de terraplenagem. Enquanto do outro lado, partindo de Cuiabá, haviam 200 Km de desmatamento, 350 Km de caminhos de serviço e 320 Km de levantamento topográfico concluído.

No dia 20 de julho de 1972, as equipes de topografia do 9º Batalhão de Engenharia de Construção do Exército, que progrediam em sentidos opostos, se encontram na altura do Km 660, concluindo o levantamento topográfico do trecho de 792 Km entre Cuiabá e a Serra do Cachimbo. 

No final de julho de 1972, é oficialmente inaugurada a cidade de Vera, o primeiro núcleo de colonização implantado ao longo da Rodovia BR-165. Junto são inauguradas uma estação meteorológica, um grupo escolar, o supermercado da Cobal, o escritório da Colonizadora Sinop, farmácia, serrarias e posto de gasolina. Na mesma ocasião a empresa Expresso Maringá inaugura a linha Cuiabá - Gleba Celeste.

No dia 16 de agosto de 1972, o 8º Batalhão de Engenharia de Construção do Exército conclui abertura do trecho entre Santarém e o entroncamento com a Rodovia Transamazônica, com 217 Km de extensão. O trecho foi aberto em 4 meses de trabalho útil, interrompidos por dois períodos de chuva. As 12 últimas árvores do trecho foram simbolicamente derrubadas pelo Ministro Mario Andreazza. O trecho Itaituba – Estreito da Rodovia Transamazônica (BR-230) já se encontrava aberto ao tráfego. A cidade de Santarém, com 56 mil habitantes,  ganha então seu primeiro acesso rodoviário.

Em dezembro de 1972, o Ministro do Interior, Costa Cavalcanti, representando o Ministro dos Transportes Mario Andreazza, junto com o Governador do Estado do Mato Grosso, inaugura o trecho de 568 Km de extensão da BR-080 entre o Km 179 da Rodovia BR-158 (trecho São Félix - Jataí) e a Rodovia Cuiabá-Santarém, 100 Km ao sul da Base Aérea de Cachimbo. O trecho foi construído pela Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste  (Sudeco) em convênio com o Departamento de Estradas de Rodagem de Mato Grosso (Demat). Mais tarde o trecho é transformado na rodovia estadual MT-322.  

Em fevereiro de 1973, a partir de Cuiabá, já estava aberto ao tráfego um trecho de quase 400 Km de extensão, com linhas de ônibus em viagens regulares, atendendo aos projetos de colonização do norte do Mato Grosso. No mesmo ano o tráfego é aberto até a Serra do Cachimbo.

Em junho de 1974, o Incra contava com cerca de 900 colonos assentados no Município de  Itaituba, na região cortada pelas rodovias Cuiabá – Santarém e Transamazônica. Sendo que muitos já haviam trocado a agricultura pelo garimpo. A região contava com cerca de 8 mil garimpeiros, distribuídos em 23 garimpos reconhecidos, todos em pontos longínquos e de difícil acesso. Apenas entre 5 a 10% do ouro era taxado pela Receita Federal. A maior parte era contrabandeada, principalmente pra Bolívia. 

Em novembro de 1975, o Comandante do 8º Batalhão, em entrevista ao Jornal do Brasil, considerava urgente a criação de uma cidade entre Itaituba e a Serra do Cachimbo, para servir de apoio logístico aos colonos a serem fixados ao longo da Rodovia Cuiabá – Santarém.  O Incra já havia instalado cerca de 80 famílias em alguns trechos da Rodovia.

Em 1976, finalmente, no dia 20 de outubro, o presidente Ernesto Geisel inaugura a Rodovia Cuiabá – Santarém, em cerimônia realizada no Km 102, ao lado da Cachoeira do Curuá, no atual Distrito de Cachoeira da Serra do Município de Altamira.

Em 1979, no dia 22 de junho, a Expresso Maringá inaugura a primeira linha de ônibus regular entre as cidades de Cuiabá e Santarém. 

A partir de 1980, o trecho entre Peixoto de Azevedo e a Transamazônica foi abandonada pelo Governo Federal. Em 1985, os ônibus da Expresso Maringá só podiam circular até Peixoto de Azevedo. Trafegar pelo trecho até a Transamazônica transformava-se numa aventura que poderia durar mais de uma semana.

Por outro lado, no trecho do Mato Grosso, em dezembro de 1984 é inaugurada a conclusão da pavimentação do trecho Posto Gil - Sinop, com 330 Km de extensão. No ano seguinte, no dia 5 de outubro de 1985, é inaugurada a pavimentação do trecho de 81 Km de extensão, entre  Jangada e o Posto Gil, completando a pavimentação entre Cuiabá e Sinop.

Em agosto de 1988, o Ministro dos Transportes reconhece que a Cuiabá – Santarém era a rodovia federal em piores condições de tráfego. As linhas regulares de ônibus provenientes de Cuiabá e Sinop só seguiam até a “Hospedaria do Gaúcho”, nas proximidades da divisa entre os estados do Pará e Mato Grosso.

Entre 2000 e 2002, com o crescimento da produção de grãos no norte do Mato Grosso, a Rodovia BR-163 recebe alguns melhoramentos, com obras de terraplenagem nos trechos mais críticos. Um trecho de 30 Km entre Campo Verde, no entroncamento da Rodovia Transamazônica, e a cidade de Trairão é pavimentado.

Em março de 2004, é criado o Grupo de Trabalho Interministerial composto por 14 ministérios e sob a coordenação da da Casa Civil da Presidência da República, que elabora o Plano BR-163 Sustentável, criando uma série de unidades de conservação na área de influência da Rodovia a ser pavimentada.

Em dezembro de 2005, ainda faltava um trecho de 993 Km a ser pavimentado, sendo 100 Km no Estado de Mato Grosso,  entre Guarantã do Norte (MT)  e a divisa com o Pará, e 893 Km no Estado do Pará, entre a divisa com o Mato Grosso até o Km 101 ao sul da cidade de Santarém. Depois de décadas de abandono a Rodovia BR-163 volta à pauta do Governo Federal como uma obra prioritária do Programa Avança Brasil, ao menos no discurso.

Em dezembro de 2009, o trecho entre Santarém e a divisa com o estado de Mato Grosso, com  1.002 quilômetros de extensão, tinha apenas 144 km pavimentados. Na mesma época são lançadas diversas frentes de pavimentação. 

Em fevereiro de 2010, o trecho de 50 km de extensão entre a cidade de Guarantã do Norte (MT) e a divisa com Pará. já contava com 22 km de trecho pavimentado, construído pelo Batalhão do Exército. 

Em novembro de 2013, o trecho entre a divisa MT/PA e Santarém, com 1002 Km de extensão, contava com 674 km pavimentados e  328 Km ainda em leito natural, praticamente intrafegáveis na época de chuva.

Em fevereiro de 2014, a empresa Bunge inicia a operação da primeira, das 7 Estação de Transbordo de Carga (ETC) projetadas para o Rio Tapajós em Miritituba, aumentando consideravelmente o tráfego de carretas na estrada.

Em dezembro de 2017, do trecho de 710 Km entre a divisa MT/PA e o porto de Miritituba, ainda contava cerca de 90 Km em leito natural, sendo cerca de 31 Km entre Santa Luzia e Trairão e 59 Km entre as localidades de  Novo Progresso e Moraes Almeida.


REFERÊNCIAS:

Cuiabá-Santarém: estudo do solo começa em maio. Correio da Manhã. 1971, abril, 30. Página 10.

Santarém no caminho do Sul. Correio da Manhã. 1971, agosto, 17. Página 5. 

Cuiabá Santarém, a conquista da selva. Manchete. 1972, abril, 29. Página 78.

Sudam tem aprovados 463 projetos para Amazônia. O Fluminense. 1972, junho, 14. Segundo caderno, página 11.

Topografia do 9º BEC já chegou ao Cachimbo. O Estado de Mato Grosso. 1972, julho, 21. Página 8.

Em poucas linhas. Diário do Paraná. 1972, julho, 21. Primeiro caderno, página 3.

Santarém aos 170 anos já se liga ao resto do Brasil por trecho da Transamazônica. Jornal do Brasil. 1972, agosto, 17. Primeiro caderno, página 24.

BR-080 expande pecuária no norte. Jornal do Brasil. 1972, dezembro, 11. Primeiro caderno, página 17.

Amazônia, do Rio a Manaus, uma aventura de 18 dias. Jornal do Brasil. 1973, fevereiro, 11. Primeiro caderno, página 24.

Reiniciadas obras da Cuiabá-Santarém. Diário de Notícias. 1973, março, 30. Página 6.

GONZAGA, Henrique . Trabalho apressado condena Transamazônica. Jornal do Brasil. 1974, junho, 4. Primeiro caderno, página 13.

Inaugurada a rodovia Filinto Muller. Jornal do Dia. 1985, outubro, 6. Página 5.

ALENCAR, Ane. Estudo de Caso, A Rodovia BR-163 e o desafio da sustentabilidade. 2005, dezembro.

DNIT disponibiliza site com situação em tempo real da BR-163 no Pará. Mato Grosso Agro. 2017, dezembro, 29.

Página lançada em 20 de maio de 2019

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